terça-feira, 14 de outubro de 2014

Entrevista



São quase quinze anos dedicados ao Black Metal nacional e após duas demos, os paulistanos do Creptum resolveram regravar uma delas. Trata-se de “The Age of Darkness”, originalmente lançada em 2004 e que foi relançada com uma nova roupagem este ano. A banda acertou em cheio e, ao invés de dar um passo pra trás, deu dois pra frente. Conversamos com o vocalista e guitarrista Tanatos que falou sobre o relançamento, o futuro da banda e a cena. Completam o time Deimous Nefus (guitarra), Animus Atra (bateria), além da mais nova integrante Bast (baixo).

Por que a banda decidiu regravar a demo “The Age of Darkness”, originalmente lançada em 2004?
Tanatos: Voltamos com o Creptum com os membros originais, porém, na época que foi gravada a demo “The Age of Darkness” (2004) eu já havia saído da banda, mesmo tendo participado de quase todo o processo de composição. Queríamos fechar este ciclo agora, 10 anos depois.

E como foi todo esse processo? Vocês procuraram buscar uma nova sonoridade, mas mantendo as características das composições?
Tanatos: Depois de alguns ensaios, percebemos algumas mudanças leves, principalmente em nossa postura. Tentamos aplicar mais melodias em algumas composições, mesmo não sendo uma característica nossa. Creio que este intervalo de 10 anos fez com que a gente tivesse tempo de perceber detalhes nas músicas que não havíamos notado na época da primeira gravação. Sobre a voz, resolvi trazer de volta um pouco das idéias vocais que tinha quando compusemos o material original.



A faixa Oh My Lord... é a única composição nova no trabalho. Vocês já tinham essa faixa composta anteriormente ou compuseram exclusivamente para o “The Age of Darkness”?
Tanatos: Oh my Lord.. talvez seja uma das primeiras composições do Creptum. Já havíamos gravado ela na “...Make This World Burn” (2003). Aliás, o nome da demo e a parte gráfica foram baseadas nela. Musicalmente, é a mais importante para nós. Foi a partir dela que começamos a moldar essa linha rápida com quebras e uma suave melodia, mas ainda manter os dois pés no Black Metal cru e agressivo.

Ainda falando de Oh My Lord... vocês procuraram manter ela mais próxima das características das faixas regravadas ou deixaram fluir naturalmente?
Tanatos: Para esta regravação, como disse anteriormente, gostaríamos de fechar o ciclo. Sabendo da oportunidade de gravar um material com uma qualidade de produção melhor, não gostaríamos de deixá-la de fora, assim como a Disciple of Evil, que também está como bônus no atual EP.

A primeira versão de “The Age Of Darkness” já mostrava uma grande evolução em relação à primeira demo “...Make This World Burn”. O que você acha que mais diferencia esses dois trabalhos?
Tanatos: Houve de fato uma evolução. Creio que a principal diferença se deu no amadurecimento de cada membro da banda. Entre os dois trabalhos iniciais, é possível notar que a banda começa a definir uma identidade. Mesmo com as mudanças de formação ocorridas na época, essa identidade não foi prejudicada. Hoje, com a nova gravação, posso dizer que ainda mantemos a essência dessa identidade.

O Creptum aposta em um Black Metal mais ríspido e direto, dispensando arranjos com teclados ou passagens mais viajantes. Esse sempre foi o foco da banda e flui com naturalidade?
Tanatos: Sim. A idéia inicial era abusar do Black Metal “sem frescura”, arranjos simples, rápidos e agressivos. Pela época em que o Creptum surgiu, Animus e eu, estávamos muito nessa pegada ainda do “Panzer Division Marduk” do Marduk (apesar de ser de 1999), “Diabolis Interium” (2001) do Dark Funeral, “Angelgrinder” (2002) do Lord Belial, e isso foi um fator determinante para essa linha que estávamos começando a formar.

Aliás, a banda prioriza a velocidade, mas dá espaços para leves quebradas e pequenas mudanças de andamento. Seria essa a principal característica do Creptum?
Tanatos: Creio que sim. Possuíamos uma carência técnica no início, e isso fez com que a gente procurasse meios de suprir isso pela agressividade, na medida do possível tentávamos colocar essas quebras com melodias simples. Já posso adiantar que isto tem sido trabalhado para os próximos sons.

O novo trabalho traz uma produção primorosa, como foi esse processo?
Tanatos: Deimous Nefus, nosso guitarrista, foi quem ficou responsável por esta produção. Ele já trabalha com isso há anos e vem se aprimorando cada vez mais. A oportunidade de poder gravar no estúdio CD Áudio Souza Lima, foi sensacional para nós. Uma qualidade extremamente profissional, o que resultou num trabalho que ficamos muito satisfeitos.



A arte gráfica também foi modificada e refeita, mantendo a essência da original. Como foi elaborado este trabalho?
Tanatos: Quando decidimos pela regravação, achei importante mostrar esta evolução também no material gráfico. Eu ainda possuía as bases que usei na primeira versão e, como todo profissional, quando vejo os trabalhos antigos feitos por mim, sempre acho que poderia fazer de uma forma diferente hoje. Por ser extremamente crítico com isso, não gostaria que nosso trabalho ficasse devendo na parte gráfica. Aquela história de que não se julga um livro (ou álbum) pela capa é falácia de gente preguiçosa. Gostaria que mais pessoas pensassem assim. Aliás, um projeto gráfico de um álbum não é apenas capa, é preciso pensar a arte gráfica como um todo, este é o principal diferencial em contraponto à música digital.

O Creptum mostra estar pronto para o lançamento de um full-lenght. O que vocês pode nos adiantar sobre um futuro trabalho?
Tanatos: Infelizmente temos tido bastante dificuldade com selos/gravadoras no Brasil. Não me espantaria se nosso full saísse por algum selo do exterior. Sobre as músicas, estamos trabalhando em composições novas. Sendo um material totalmente inédito, talvez haja algumas surpresas quanto à linha de composição, mas tentaremos manter a agressividade e rispidez já características do Creptum.

A cena Black Metal brasileira mostra muitas bandas de qualidade, dentre elas Patria, Imperium Infernale, Symphony Draconis e Creptum. Como vocês vêem esse cenário atualmente e ao que acham que o estilo cresceu tanto em termos de qualidade no underground nacional?
Tanatos: A qualidade que vemos é notória e incontestável. O acesso que temos hoje aos grandes nomes do Black Metal mundial ajudou muito isso. Estamos melhorando, mas o espaço para bandas novas ainda é complicado em shows de bandas de fora. O que eu acho que deveria acontecer, é a abertura desses espaços para bandas nacionais entre as internacionais. Ainda acontece muito, principalmente aqui em São Paulo (capital), de ver festivais ‘inflados’ com bandas de fora e apenas 1 nacional, aparentemente com o único objetivo de se cobrar mais por ingressos. É triste, mas é fato!



Muito obrigado pela entrevista. Pode deixar uma mensagem aos leitores.
Tanatos: Agradeço imensamente a oportunidade de poder falar um pouco sobre o Creptum em seu blog. Pessoas que trabalham duro em prol do underground nacional como você, Vitor, é de grande valor para a cena como um todo. Pedimos às pessoas que procurem conhecer as bandas de sua região, vá a eventos, comprem CDs, camisetas para apoiá-las. Temos bandas de altíssimo nível, dos mais diversos estilos e em todo território nacional, não tem desculpa para gastar apenas com quem vem de fora.


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